quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

QUARESMA - TEMPO FAVORÁVEL DE RECONCILIAÇÃO

Oi gente, Deus abençoe a todos!
Estou feliz por poder escrever-lhes nesta manhã de quarta-feira de cinzas, dia 17 de Fevereiro de 2010. Haviam muitos dias eu não vinha aqui deixar algo escrito, certamente porque não havia nada para eu dizer mesmo. Neste periodo estive as voltas com a gravação do CD Nação de Profecia que deverá ser enviado para a fábrica no próximo dia 22 de fevereiro e além disso, durante as gravações soube que Deus havia me escolhido para ser pai de uma vida criada por Ele, isso tudo mexeu tanto comigo que sequer tive o que falar no meio de tantas coisas que pensava, foram dias muito intensos que estão registrados no CD Nação de Profecia.
Foi assim que passei todo este tempo e hoje consegui ouvir a vóz de Deus falando ao meu coração e me orientando para este tempo que estamos iniciando, a Quaresma.
Quero partilhar um pouco desta orientação com você e convidar-lhe para que façamos um caminho de reconciliação pontuado por um carater determinado e por um espirito de busca verdadeira de Deus em nossas vidas.
O tempo que estamos começando é chamado de: "tempo favorável para a conversão" - isso significa que este momento abriga as condições necessárias para que uma pessoa mude em si aquilo que percebe que mudando irá lhe ajudar a ficar mais próxima de Deus.
Existem alguns sinais que nos ajudam a compreender porque este tempo é favorável, e é compreendendo estes sinais ou estas caracteristicas do tempo que conseguiremos aproveita-lo melhor vivendo-o como tempo de real mudança de vida, de conversão, de reconciliação.
Durante todo o ano liturgico temos oportunidade para ouvir a palavra de Deus, participar de momentos penitenciais, retiros, ouvir canções ou pregações, palestras e com isso viver uma experiência de conversão, porém, na quaresma, temos a principal oportunidade para isso, porque é nela que a Igreja assume uma atitude penitencial e nos convida a todos a fazer o mesmo.
Agora pela manhã, ao fazer o estudo da profecia de Joel (2, 12-18) fui percebendo a mudança de discurso na liturgia. "Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes". Esta leitura parece nos dar o tom do que será este tempo. Será necessário uma atitude de mudança interior, não bastaram as exterioridades, porque ninguém se converte porque usa uma camisa com o rosto de Jesus ou porque põe uma cruzinha no peito. Isso tudo pode até ser consquencia mas não é a essência da conversão.
Da mesma forma, ninguém é convertido porque vai a missa todos os dias ou porque reza o terço da mesma forma, ou faz jejuns todas as semanas, muito menos porque é consagrado(a) religioso(a), leigo(a), sacerdote; mas todos e inclusive estes são chamados a uma dinâmica constante de conversão, de mudança de vida.
Porque o que faz a diferença é a mudança interior, a capacidade de reconhecer-se dependente de Deus e consequentemente dos irmãos. O processo de conversão abre no coração de cada pessoa uma janela para olhar os outros, a vida e acolher a todos os que estão fora. Cada passo de conversão que eu dou, me leva a acolher alguém que ainda não aprendi a acolher.
A conversão a Deus, a partir de Jesus, passa necessáriamente pelo outro. E nesse sentido nos dirá São João: "Ninguém pode dizer que ama a Deus que não vê, se não ama o seu irmão que vê" - isto é determinante para se identificar um processo de conversão.
Nenhum processo de conversão se encerra na própria pessoa e não será processo de conversão se parar na vida da própria pessoa, porque todo o processo de conversão a Deus passa necessáriamente pelo caminho chamado "o meu próximo".
Isso porque mudar de atitude interiormente, irá refletir diretamente na minha maneira de pensar, de falar e de agir e o termômetro para saber a que nivel chegou essa mudança será sempre o meu próximo.
Nesse sentido a Igreja nos dá a oportunidade de celebrar nossa conversão de uma maneira coerente. Oferecendo as leituras que já são próprias do tempo, tornando a liturgia mais reflexiva, sem o uso do canto ou da oração do Glória e também sem o uso do canto ou a oração do Aleluia, que marcam, de certa forma o sentido mas festivo da liturgia.
Por outro lado as celebrações ganham um sentido mais Penitencial, devendo criar oportunidade para a reflexão pessoal e favorer o encontro da pessoa com Deus. Vale aqui dizer que a palavra penitencia trás em si um sentido profundo de louvor a Deus, já que, a pessoa se arrepende de um ato praticado que fere o coração do seu criador e por causa desse ato, assume uma postura de reconhecimento do seu Criador como único e necessário Deus de sua vida. Viver bem um momento penitencial é também reconhecer que Deus é maior e louva-lo com o coração transformado, ou seja, com o Coração Novo.
Por isso, deve-se aproveitar bem este tempo, composto de 4o dias, para celebrá-lo bem. Normalmente celebramos bem o tempo comum, o tempo da Páscoa, o Advento e mesmo o tempo do Natal, mas as vezes percebo visitando algumas comunidades e mesmo em nossa Comunidade Coração Novo que encontramos certa dificuldade para fazer valer bem esse tempo de quaresma, e, com isso deixamos de aproveitar o tempo favorável que a Igreja nos dá para celebrar bem a nossa conversão e criar oportunidades boas para que nossos irmãos e irmãs também façam sua experiencia de conversão.
Não são necessários grandes "malabarismos liturgicos" - este tempo exige apenas uma atitude de simplicidade, de humildade (esta palavra aliás pode nos ajudar muito), porque humildade tem o mesmo radical de humilhação - humus - terra - o homem foi feito do barro, foi feito da terra - somos seres frageis e estamos suscetives a quebrar diante de qualquer pancadinha um pouco mais forte. Por isso a única condição segura para o ser humano é a humildade, quem não consegue se humilhar vive correndo o risco de quebrar de uma hora para outra.
É assumindo sua condição natural de humus que o homem pode ser ajudado por Deus, porque só assim o homem se reconhece como criatura de não como criador e essa condição de ser humus deve ser assumida em cada área da vida da pessoa. em cada situação, em cada momento. O tempo todo somos postos em situações diante das quais devemos nos posicionar e é nessa hora que nos abrimos ou não ao pecado, dependendo de nossa escolha. Se em determinada situação nos reconhecemos como Humus, como terra, como criatura, isso significa que estamos prontos para sermos criados, para sermos ensinados, dificilmente nesse caso nos deixaremos levar pelo orgulho ou pela vaidade e prepotencia; porém se nos colocamos como aquele que não pode ser humilhado, essa atitude em si já nos fará procurar a nossa defesa pessoal, tentaremos nos defender da maneira como achamos melhor, falando aquilo que pensamos e agindo da maneira como entendemos ser a mais eficáz.
Esse entendimento é que faz com que o ser humano viva uma alegria solida. Porque aprende a não depender de si mesmo, de seu barro, de sua fragilidade, mas aprende a depender de Deus, do seu criador, porque o Ser humano não cria por si só, mas é continuador da criação de Deus.
Por isso, as liturgias devem ser celebradas com pureza de coração e de intensão. Evitam-se arranjos com muitas flores coloridas, aqui é mas conveniente usar o verde. Vasos bem arrumados e proporcionais ao ambiente celebrativo ajudarão a compor a celebração.
A cor liturgica é a roxa e com ela poderemos trabalhar cada momento e cada espaço, com descrição e bom senso de forma que o espaço comunique por si só. Aliás, já disse isso em outros momentos, o espaço celebrativo não se resume ao templo, mas, todo o espaço de convivência comunitária. Onde a comunidade esta ai se lembra penitencia, ai se lembra de sua condição de humus. Isso pode ser feito de diversas maneiras, com cartazes, frases, imagens, mesmo a alimentação pode ser pensada de uma maneira diferente, mas sobretudo a atitude penitencial é que dará o sentido ao tempo, e essa depende de cada pessoa. Isso mesmo, poderiamos colocar vários simbolos de vários significados diferentes, mas seriam apenas alegorias, como aquelas que se usam no carnaval, sem sentido real, apenas uma fantasia, sem significado, se não houvesse quem de fato acreditasse e vivesse aquilo que o simbolo diz. Porque o simbolo, o sinal, serve apenas para indicar que algo diferente acontece naquele lugar.
Assim como o sinal vermelho indica que os carros estão parados e que o pedestre pode atravessar e que o verde indica que os carros estão em movimento e por isso não se deve atravessar a rua, assim como também aquela imagem já conhecida da enfermeira pedindo silêncio no cartaz do hospital indica que o ambiente exige uma posturar cuidadosa porque há alguém que precisa de cuidados.
Desta mesma forma os simbolos e os sinais na Igreja, em cada tempo liturgico, indicam que algo esta acontecendo na vida das pessoas. Então, ao mesmo tempo que o simbolo favorece um processo interior porque nos situa no tempo, ele também comunica que algo esta sendo vivido por alguém e que é necessário que esse tempo seja conhecida para ao menos ser respeitada por quem chega.
A atitude quaresmal de cada pessoa é maior e o melhor simbolo da quaresma, porque somos nós com nosso jeito de viver a quaresma que daremos sentido ao tempo liturgico e consequentemente nos tornaremos simbolos, sinais, para chamar a atenção dos outros não com nossas palavras, mas com nossas atitudes para uma real necessidade de conversão, de mudança de vida.
Porém, é necessário compreender que a verdadeira atitude de penitencia, se por um lado nos leva a refletir a nossa vida inteira, por outro também nos deve ser sinais de alegria, porque quem toma uma atitude penitencial, esta louvando o seu criador, e não deve estar triste por isso, afinal de contas esta vivendo um reencontro diário com o seu Deus. Essa alegria é interior e encontrará espaço em um olhar ou um sorriso sereno, um humor equilibrado, canções profundas ajudarão a interiorizar melhor a pessoa, e poderão até leva-la as lágrimas por causa de um encontro verdadeiro com Deus, mas daí a pessoa não sairá triste, mas naturalmente feliz por ter feito uma experiencia com Deus.
É sobre isso que Jesus esta nos falando do Evangelho desta quarta-feira de cinzas.(Mt. 6, 1-6. 16-18).
Facilmente nos deixamos iludir com os olhares daqueles que nos admiram por causa de nossas praticas de fé. Jesus nos alerta que não é por causa das pessoas que tomamos atitudes de fé, mas por causa da nossa relação com Deus, ou melhor, é porque nos relacionamos com Deus. Caso não houvesse quem nos visse ou nos cobrasse, fariamos as mesmas coisas?
Jesus chama atenção dizendo que os que buscam ser reconhecidos nas praças e nas sinagogas, já receberam a sua recompensa, e isso significa, o objetivo já foi alcançado, já agradaram a quem desejavam agradar, acabou ali o sentido da sua fé.
É preciso que se compreenda bem este evangelho. Jesus não diz que devemos nos isolar, quando nos manda entrar no silencio do nosso quarto e orar ao Pai que esta no céu (Mt. 1,6); porque o mesmo Jesus diz aos discipulos que Ele estará onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome (Mt. 18,20).
Para este tempo de quaresma, será necessário então compreender o seguinte: A conversão é pessoal e se dá na pessoa, mas ao mesmo tempo a partir do convivio com a comunidade. Quem tem medo de conviver, não se converte. Porque converter-se, como diz nosso amigo Cônego Gino Serafim, é VER COM os outros, para só assim TER-SE, ou seja, ter dominio de si mesmo. O processo de conversão é que nos ajuda a encontrar o auto-dominio. A partir daquilo que os outros veem em mim e que eu reconheço como limite, me lanço para dentro de mim mesmo, e no meu interior, onde só eu e Deus estamos juntos, permito que Ele, o meu criador, mexa na terra que eu sou e me modele novamente.
É por isso que os nossos gestos podem não significar nada em si mesmos, caso não tenham fundamento em nossa vida interior, eles serão evasivos, sem força, e a nós a penitencia terá sido assimilada de forma mediocre e completamente errada, como um tempo de castigo, o que consequentemente não levará ninguém a mudança de vida ou a conversão.
Por enquanto fico por aqui, e desejo sinceramente que vivamos este tempo na alegria verdadeira do Senhor.
Uma Santa quaresma a todos.

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